quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Por que "Caminho no deserto"?

Por que um nome como "Um caminho no deserto"? O correto não seria fazer referência àquele que está no deserto, proclamando?

Ocorre que há um problema nas traduções que fazem referência a João Batista e sua pregação no deserto. O texto, na grande maioria de nossas versões, afirma: "Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor" (Mt 3.3). Traduz a idéia de que o pregador está no deserto, e, de lá, proclama a sua mensagem. Os autores do NT logo associaram (não sem razão) este personagem citado por Isaías ao profeta João Batista. Ele é o que surge no deserto, conclamando o povo ao arrependimento devido à chegada do Reino de Deus.

Porém, os evangelistas utilizaram como fonte para seus escritos a Septuaginta (LXX), isto é, a versão do AT em grego. O ponto em questão é que a LXX traduziu de forma incorreta o texto hebraico de Isaías 40.3. Na verdade, na bíblia hebraica, o verso se lê da seguinte maneira: "Voz do que clama: no deserto preparai o caminho do Senhor".

Dessa forma, é o caminho de Deus que está sendo preparado no deserto. Aliás, isso condiz com o ministério de João Batista e do próprio Jesus: suas críticas às elites religiosas e políticas de seu tempo revelam que Deus não se associa aos centros de poder humanos. Antes, o caminho de Deus é feito no ermo, na periferia, entre os excluídos da sociedade, entre os que não têm voz nem vez na ótica destas elites.

Se é assim, então vale a pena questionar a prática evangélica que é praticada em nossas comunidades de fé. Desejamos estar com Deus, no deserto, ou preferimos nos aliar ao poder que busca monopolizar o acesso ao Sagrado? Nosso caminho segue a prática ministerial de Jesus, ou tem seus próprios interesses e desejos?

Que cada um responda.

Quanto a mim, prefiro buscar o deserto.


Soli Deo Gloria

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